Em 1978, Abdias do Nascimento lançou O Genocídio do Negro Brasileiro, um livro que denunciava o racismo estrutural no Brasil e a falsa ideia de democracia racial. Mais de quatro décadas depois, a realidade comprova cada uma de suas palavras. Se antes a exclusão da população negra se manifestava nas ruas, no mercado de trabalho e na política, hoje a internet se tornou um novo palco para a violência racial, com vídeos chocantes de ataques verbais e físicos contra afrodescendentes circulando diariamente.
O que se vê são cenas revoltantes de cidadãos brancos insultando negros, tanto brasileiros quanto estrangeiros, reafirmando um preconceito que muitos insistem em negar. Essas atitudes, registradas e amplamente divulgadas nas redes sociais, expõem a persistência de uma mentalidade racista que não apenas fere indivíduos, mas também envergonha o país. As imagens de agressões e humilhações não são casos isolados, mas sim um reflexo de uma estrutura social que ainda desumaniza a população negra, exatamente como Abdias alertou décadas atrás.
Abdias do Nascimento (1914-2011) foi um dos mais importantes intelectuais e ativistas do movimento negro no Brasil. Poeta, dramaturgo, professor e político, ele dedicou sua vida à luta contra o racismo e à valorização da cultura afro-brasileira. Fundador do Teatro Experimental do Negro, foi pioneiro na defesa dos direitos dos negros e no debate sobre a desigualdade racial no país. Como parlamentar, defendeu políticas afirmativas e denunciou o racismo institucional. Seu legado permanece vivo e, diante das violências que ainda ocorrem, sua obra continua sendo um alerta urgente sobre o país que somos e o que queremos ser.
O mais preocupante é que, mesmo diante dessas evidências, parte da sociedade ainda relativiza ou silencia sobre essa realidade. Enquanto o Brasil não enfrentar seu racismo com seriedade, medidas concretas de combate à discriminação continuarão insuficientes, e o genocídio simbólico e físico dos negros persistirá. Em pleno século XXI, a pergunta que fica é: até quando seremos a nação que se recusa a aprender com sua própria história?