O tetracampeão mundial Dunga esteve em Cuiabá para uma palestra e fez uma análise franca sobre o momento do futebol brasileiro. Ele avaliou os desafios na preparação da Seleção para a próxima Copa do Mundo. Em entrevista exclusiva ao ge, o ex-capitão e ex-treinador da equipe nacional destacou que o sucesso dentro de campo depende de planejamento e organização fora dele.
? Para dar certo lá no campo, temos que preparar aqui, organizar aqui. Veja quanto tempo a gente perdeu para formar uma seleção para a Copa do Mundo. Trocamos quatro treinadores, muita dificuldade, e agora a gente quer que, num passe de mágica, tudo dê certo dentro do campo. Tudo tem um processo na vida e um tempo para se realizar ? disse.
Apesar das dificuldades recentes, Dunga ressaltou que o Brasil segue como favorito natural em qualquer torneio que disputa. Para ele, a Copa do Mundo é um campeonato à parte, no qual o desempenho prévio nem sempre define os resultados.
? Nem sempre aqueles que foram bem nas eliminatórias vão bem na Copa. Ainda temos quase um ano para nos preparar e buscar sucesso na competição ? afirmou.
Valorização da essência e da base
Um dos pontos centrais do discurso foi a defesa da essência do futebol brasileiro, marcada por criatividade, técnica e talento. Dunga criticou a tendência de importar métodos estrangeiros sem considerar a realidade nacional, principalmente na formação de jovens atletas.
? Às vezes a gente tenta importar muita coisa de fora sem contextualizar a nossa realidade e sem estudar a nossa história. Como o Brasil foi pentacampeão? Como consegue exportar tantos jogadores todos os anos da base? É sinal de que nossa base está boa. Lógico que temos que crescer, estudar, evoluir, mas não podemos perder a nossa essência ? destacou.
Ele também aconselhou jovens treinadores a priorizarem a simplicidade no desenvolvimento dos jogadores.
? A orientação principal é fazer as coisas simples. Nosso conceito de vida é a criatividade, o talento e a técnica ? completou.
Europa como referência, não modelo a ser copiado
Dunga reconheceu que o futebol europeu pode contribuir com o brasileiro, principalmente em termos estruturais, mas alertou que isso não pode resultar na perda da identidade nacional.
? Às vezes as pessoas querem transformar o futebol brasileiro em futebol europeu. Vamos trazer do futebol europeu aquilo que acrescenta: organização, tempo de serviço, melhores condições. Mas a qualidade, a criatividade e a capacidade que nós brasileiros temos, não podem ser esquecidas ? afirmou.
Liderança pelo exemplo
Outro ponto abordado por Dunga foi a formação de líderes, tanto dentro quanto fora de campo. Para ele, que levantou a taça do Tetra em 1994, a liderança se constrói diariamente, a partir da postura e do exemplo.
? Não adianta eu querer ser líder ou capitão se antes não cumpro a minha tarefa, se não dou exemplo aos demais. O papel do líder é ajudar as pessoas ao redor a crescerem e formar novos líderes. Quanto mais gente de qualidade estiver ao nosso redor, todos nós vamos evoluir ? disse.
Troca de experiências em Cuiabá
O evento de lançamento do Curso de Licença B ? Treinador de Futebol, promovido pela Federação Mato-grossense de Futebol em parceria com a CBF Academy, reuniu profissionais locais em busca de capacitação. Para Dunga, encontros desse tipo são fundamentais para fortalecer o futebol em todas as regiões do país.
? Mais do que eu vir só falar, o importante é trocar experiências. O Brasil tem muitas regiões diferentes. Quem está aqui tem que trazer informação, e só vamos crescer se todos contribuírem, cada um com sua experiência, talento e criatividade ? concluiu.
Fonte GE Esportes