O Brasil, país onde o surreal é regra e o inacreditável se torna cotidiano, nos brinda com mais um episódio digno de roteiro tragicômico. Em fevereiro de 2024, a Zion Real Estate Ltda, uma empresa com sede em Sorriso, Mato Grosso, foi desclassificada de uma licitação pública pela Prefeitura de Várzea Grande. Motivo? Simples: incapacidade técnica. Isso mesmo. A comissão julgadora do processo 934092/2023 concluiu que a empresa não atendia ao item 9.5.5 do edital, relacionado à qualificação técnica, para a construção do Mercado Municipal de Várzea Grande.
Até aí, tudo bem – ou, pelo menos, dentro dos limites do esperado. Mas eis que o enredo ganha contornos de realismo mágico. Essa mesma empresa, que não conseguiu comprovar competência para erguer um mercado público, foi a escolhida para liderar a construção da Ferrogrão, o maior projeto logístico do Brasil, com orçamento na casa dos bilhões de reais.
É o tipo de notícia que deixa qualquer um boquiaberto. Como uma empresa, ainda engatinhando no mercado e com dificuldades para cumprir exigências básicas de um edital local, consegue saltar para o comando de um empreendimento estratégico para a infraestrutura nacional? Seria sorte? Talento oculto? Ou apenas mais um capítulo da velha e conhecida novela brasileira, onde o impossível não só acontece, mas também parece ser regra?
A Zion Real Estate, que até outro dia era uma pequena desconhecida, viveu o equivalente empresarial de ganhar sozinha a Mega-Sena da Virada. E, enquanto isso, nós, cidadãos, continuamos como espectadores de um teatro onde o enredo desafia qualquer lógica, torcendo para que, um dia, esse país passe a ser governado pelo mérito e pela competência, e não por forças invisíveis que transformam o absurdo em norma.
A pergunta que não quer calar: será que o próximo capítulo dessa novela vai explicar como o Brasil consegue ser tão brilhante na arte de contrariar o bom senso?