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Gerson Lopes revela encontro com Zico no Flamengo campeão de 1980: “Perdi a voz”

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De um campo de terra em Alto Paraguai, no interior de Mato Grosso, para o gramado do Maracanã lotado. Essa é a travessia que marcou a vida de Gerson Lopes, ex-atacante mato-grossense que escreveu seu nome na história ao ser campeão brasileiro de 1980 com o Flamengo de Zico ? uma das equipes mais marcantes do futebol brasileiro.

Aos 66 anos, Gerson relembra com emoção o caminho meteórico que o tirou dos gramados de Várzea Grande para os holofotes do Rio de Janeiro. Um percurso improvável, marcado por talento, humildade e uma boa dose de destino.

As raízes no Operário VG e o salto meteórico

Natural de Alto Paraguai, Gerson começou jogando futebol amador em Cuiabá, sendo um camisa 10 com faro de gol, antes de ser descoberto pelo Operário Várzea-grandense, o tradicional CEOV.

Aos 18 anos, ele já se destacava entre os profissionais, mesmo sem nunca ter passado por escolinha ou base estruturada.

? Eu não tive escolinha, nossa família sempre unida, mas passava muitas dificuldades. Já fui do amador para o profissional direto, estadual e depois ao Brasileiro. Em um ano, eu estava no Operário, disputei dois estaduais e já estava no grande Flamengo.

Antes disso, uma passagem marcante: emprestado ao Cacerense, Gerson se destacou no Mato-grossense com 11 gols marcados.

? Eu agradeço muito ao Cacerense. Foi lá que eu me despontei. Fiz 11 gols no estadual, voltei para o Operário e fiz mais gols, chamando a atenção nacional. Assim começou minha carreira.

Baixinho (1,71m), mas dono de uma impulsão surpreendente, Gerson chamava atenção pelos gols de cabeça e pela velocidade no ataque.

? Meu treinador, seu Nivaldo Santana, me ensinou muito. Depois do treino, ele ficava comigo levantando bola para eu cabecear. Ele me ensinou a impulsão parada, a olhar o goleiro antes de cabecear. Isso fez a diferença.

O dia em que o Globo Esporte anunciou: ?Gerson Lopes vai para o Flamengo?

O destino de Gerson mudou num fim de tarde em Cuiabá. Enquanto ele treinava no CEOV, o Globo Esporte noticiava que o técnico Cláudio Coutinho havia confirmado a contratação de um jogador ?com nome de craque? para o Flamengo. A reportagem falava de um tal ?Gerson Lopes, do Operário de Mato Grosso?.

O curioso é que o próprio Gerson ainda não sabia da notícia.

? Eu estava chegando do treino e vi um monte de gente na porta de casa. Todo mundo já sabia que eu ia para o Flamengo, só eu que não! Meu pai era vascaíno e ficou bravo. Dizia que preferia que eu fosse para o Vasco. Mas graças a Deus aconteceu, foi bom demais para minha carreira.

Chegada à Gávea e o encontro com Zico

A viagem ao Rio foi acompanhada por Carlos Orione, então presidente da Federação Mato-grossense de Futebol.

Quando chegou à Gávea, Gerson se deparou com um ambiente de euforia ? a imprensa carioca lotava as salas, e o craque Zico estava na sede para renovar contrato.

? Eu cheguei e estava cheio de repórter. Achei que fosse tudo para mim. Mas era o Zico renovando! Quando o repórter me apresentou, eu levantei para cumprimentar ele e… perdi a voz. Não consegui falar. Eu via o Zico só por rádio e revista. De repente, ele me abraçando. Foi uma emoção enorme.

Zico, gentil, apenas sorriu e disse:

? ?Seja bem-vindo. Pode ficar tranquilo que aqui você será muito bem recebido?, conta Gerson.

A estreia em Cuiabá e os três gols que fizeram história

Pouco tempo depois, o Flamengo saiu em turnê pelo país para amistosos de pré-temporada. Um dos jogos foi justamente em Cuiabá, contra o Mixto, na entrega das faixas de campeão estadual de 1979.

Gerson teve a chance de atuar em casa, e o técnico Cláudio Coutinho decidiu escalá-lo como titular ? mesmo contrariando o artilheiro Cláudio Adão.

? O Coutinho falou: ‘Adão, o menino é da cidade dele, é festa, vou colocá-lo para jogar.’ O Adão não gostou. Disse que não aceitava. Mas o Coutinho manteve a decisão. Eu joguei e fiz três gols. O Zico fez quatro.?

O episódio acabou mudando os rumos do elenco. Cláudio Adão não gostou da situação e acabou afastado do grupo.

Anos depois, ao se reencontrarem no Mixto, Adão como técnico e Gerson de diretor de futebol, o ex-companheiro brincou:

?O único jogador que me botou no banco foi esse aí, o Gerson.?

O sonho realizado: jogar no Maracanã com os ídolos

Pouco depois, Gerson viveu o auge da emoção e contou sobre o nervosismo ao jogar pelo Flamengo:

? Uma vez a gente tava concentrado para jogar contra o Atlético, no Mineirão, 72 mil pessoas. Eu belisquei o braço para ver se era verdade. Eu, que via Zico e companhia só no Canal 100, tava ali no mesmo time.

? Tremia tudo. Aí o Júnior passou e falou: ?Biro, fica tranquilo, está todo mundo aqui.? Aí passou. E ainda fiz o primeiro gol do jogo. O Adílio fez o segundo. Ganhamos de 2 a 1.

Campeão brasileiro e acolhido pelos craques

O elenco rubro-negro era estrelado: Raul Plassmann, Leandro, Mozer, Carpegiani, Júnior, Andrade, Adílio, Tita e Zico. Gerson era o jovem mato-grossense entre os gigantes.

Na temporada, o Flamengo conquistou a Taça Guanabara e o Campeonato Brasileiro de 1980, abrindo caminho para o título mundial no ano seguinte.

? O Júnior e o Raul foram os que mais me acolheram. O Júnior me levava com ele nas lojas e dizia: ?Escolhe o que quiser.? O Raul fazia o mesmo com outra marca. Eu não gastava um cruzeiro. Eram como irmãos mais velhos.

Carreira pelo Brasil e legado em Mato Grosso

Depois do Flamengo, Gerson atuou por Goiás, Santo André, Caxias, Juventude e Ypiranga-RS. No time goiano, formou uma dupla marcante com Luvanor, e no Sul virou artilheiro dos clássicos entre Caxias e Juventude.

De volta ao Operário, reencontrou o bom futebol e se tornou ídolo da torcida várzea-grandense, ao lado de nomes como Ivanildo, Mosca e Luiz Carlos Beleza.

? Tudo o que conquistei começou aqui. O Operário foi meu primeiro amor no futebol. Mato Grosso é minha base, meu orgulho.

Um mato-grossense entre os campeões do Brasil

Gerson Lopes não foi apenas um jogador de passagem. Ele representa um pedaço da história que conecta o futebol de Mato Grosso ao cenário nacional.

De Alto Paraguai à Gávea, do campo de chão ao Maracanã, viveu o sonho que poucos alcançam. Hoje, o ex-atacante guarda as memórias com gratidão:

? Quando lembro de tudo, parece um filme. Saí do interior, trabalhei em um mercado aqui na capital, cheguei ao Flamengo e fui campeão brasileiro. Isso foi emblemático e ainda tive uma boa carreira. Nada apaga essa emoção ? completa o artilheiro em agradecimento ao apoio da família.

Fonte GE Esportes

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