O mercado reagiu mal à decisão do governo de abandonar a meta fiscal que previa um superávit primário de 0,5% do PIB em 2025, e já trabalha com a possibilidade de o ciclo de queda dos juros terminar antes do previsto.
O alerta, por sinal, foi feito tanto pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, como pelo próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O governo mudou a meta fiscal para o próximo ano, propondo agora um déficit zero, o que significa abrir mais espaço para gastos ? diante de uma dificuldade para aumentar receitas no próximo ano ? e afrouxar o novo arcabouço fiscal logo no seu segundo ano de existência.
A decisão acabou sendo encarada pelo mercado como uma derrota da equipe econômica, que chegou a defender inicialmente pelo menos um superávit primário de 0,25% do PIB.
O governo poderia ter optado por cortes para atingir esse patamar, mas a equipe econômica acabou avaliando que o clima no Congresso não é mais favorável a aumento de receitas e, por outro lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não quer sacrificar projetos de investimentos.
O resultado foi a mudança da meta fiscal, que fez o dólar subir na segunda-feira (15) e fechar em R$ 5,18. A Bolsa também caiu.
Políticas alinhadas
Depois de o governo anunciar a mudança, o presidente do Banco Central fez o alerta de que o custo da política monetária pode aumentar se o mercado entender que o arcabouço fiscal não será mais respeitado.
Campos Neto está em seu último ano à frente do BC e voltou a ser alvo de críticas do presidente Lula.
Com suas novas declarações, pode sofrer ainda mais ataques. Só que Campos Neto está apenas dizendo que é preciso ter uma harmonia entre as políticas monetária e fiscal, o que sempre foi defendido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Corte de juros
A própria equipe econômica admitiu que, apesar de ainda haver espaço para novos cortes na taxa de juros, o ciclo de queda pode terminar antes do previsto.
O governo e o mercado esperavam que a taxa Selic, hoje em 10,75% ao ano, chegasse a pelo menos 9% ao final do atual ciclo. Agora, as previsões do mercado devem mudar.
Alguns economistas, como André Perfeito, por exemplo, falam em 9,75%. Com isso, a dívida pública vai crescer. De 74,4% do PIB em 2023, pode fechar o último ano do governo Lula, em 2026, em 79,1%, ou seja, ela não vai cair nem se estabilizar, como desejado.
A equipe econômica se defende dizendo que a dívida não vai disparar, como economistas e oposição chegaram a prever.
Fonte G1 Brasília