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Morte de jovem em blitz reacende indignação por violência policial na periferia de Paris

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A morte de Nahel, um jovem francês de 17 anos baleado por um policial após furar uma blitz nos arredores de Paris, desatou a ira nas ruas de de toda a França que já dura três dias e reacendeu um debate adormecido sobre a violência policial nas periferias da capital.

Além de Paris, cidades como Marselha, Lyon, Lille e Tolouse registraram protestos violentos, e mais de 600 foram presos.

Nahel – cujo sobrenome não havia sido divulgado até a última atualização desta notícia – foi abordado por policiais na noite de terça-feira (27) enquanto dirigia um carro – na França, a lei permite a carteira de habilitação a adolescentes de 17 anos.

Um vídeo (veja abaixo) mostrou como os policiais o abordaram com armas e, segundos depois, como o jovem acelerou o carro. Um dos oficiais então disparou, e Nahel morreu horas depois pelos ferimentos da bala, que atingiram seu tórax.

Casos desse tipo não são incomuns na França – desde 2022, 13 pessoas morreram em abordagens similares na periferia de Paris, segundo a Promotoria da cidade.

Desta vez, no entanto, os protestos ganharam mais força, motivados pela grande comoção do caso no país – com reações de personalidades desde o presidente Emmanuel Macron ao astro do futebol francês Kylian Mbappé – e com protestos nos Estados Unidos por pessoas negras mortas também em abordagens policiais.


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Nahel era filho de uma mãe argelina e pai marroquino, e fazia parte da chamada segunda geração – jovens de pais imigrantes mas que nasceram na França, em maioria de classe média baixa e que, muitas vezes, vivem em um hiato entre a sociedade em que nasceram e o país de origem de seus país.

A França adota um modelo assimilacionista de integração de imigrantes, que, diferentemente do multiculturalismo, prevê a eliminação de traços da cultura de origem de quem passa a viver no país.

Mas o crescimento das migrações de cidadãos das ex-colônias da França na África e no Oriente Médio tem feito governos locais e o nacional do país revisarem essa política, que foi angariando críticas, inclusive da Organização das Nações Unidas (ONU), por uma suposta repressão aos costumes étnicos, culturais e até religiosos das populações estrangeiras.

A alegação é que a integração dos imigrantes é falha com o assimilacionismo. Dados do Atlas Migratório da União Europeia de 2022 mostram que os imigrantes na França vindos de países não europeus, como as ex-colônias, estão entre os que menos recebem educação e oportunidades de trabalho em todo o continente.

Segundo a Eurostat, a agência de estatística do bloco europeu, 40% desses imigrantes têm apenas educação básica, e a taxa de desemprego entre eles em 2022 chegou a 15%, enquanto a de nacionais franceses era de 3% no mesmo ano.

Um dos casos mais emblemáticos dessa política de assimilacionismo foi a proibição do uso do véu islâmico em escolas públicas francesas. Após uma onda de protestos, o então governo anunciou uma revisão da lei, em um dos primeiros indicativos de flexibilização da política de assimilacionismo.

Ainda assim, a segunda geração cresceu em geral excluída em periferias como da cidade de Nanterre, cidade de menos de 100 mil habitantes apenas 15 quilômetros a oeste de Paris.

A região foi o o berço de uma cultura de reivindicações da classe trabalhadora do país, mas, nas duas últimas décadas, foi abrigando cada vez mais famílias de imigrantes – em maioria, de países africanos que foram colonizados pela França, caso dos pais de Nahel.

Desde a última década, o governo francês vem aplicando uma série de políticas sociais aos jovens da segunda geração. O adolescente morto, que trabalhava como entregador de pizza, estudava para ser eletricista através de um programa de governo, segundo contou sua mãe à imprensa francesa.

Mas Organizações Não Governamentais como a Human Rights Watch vêm denunciando que o comportamento da polícia com jovens da periferia parisiense só vem piorando.

Em 2005, um caso marcou o país, e o governo à época prometeu mudar essa situação. Naquele ano, dois adolescentes negros e também filhos de pais africanos morreram eletrocutados quando fugiam da polícia em Clichy-sous-Bois, ao noroeste da capital francesa.

O governo do então presidente, o conservador Jacques Chirac, decretou estado de emergência, pela primeira vez na França metropolitana. Ele prometeu revisar a abordagem dos policiais, mas os dois oficiais envolvidos no caso acabaram absolvidos dez anos depois.

Algumas decisões judiciais também têm indicado um retrocesso na nova política de integração. Na quinta-feira (29), por exemplo, a Justiça francesa manteve uma decisão de vetar o uso do hijab em jogos de futebol feminino. O caso havia suscitado amplos debates políticos no país.

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Apesar da repressão da polícia – o governo anunciou na quinta-feira (29) que colocaria 40 mil policiais nas ruas – os protestos motivados pela morte de Nahel já tomaram cidades de toda a França nas três últimas noites e devem crescer no fim de semana, segundo organizadores.

Grandes manifestações foram convocadas em cidades como Marseille, Nantes e Nice.

Fonte G1 Brasília

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