Responsável pelos processos criminais que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF), a nova vice-procuradora-geral da República, Ana Borges, reorganizou as investigações do 8 de janeiro na PGR desde que assumiu o posto número 2 da PGR, há pouco mais de um mês.
A vice-PGR seguiu o entendimento de que os atos golpistas não foram um fato isolado, mas sim a “eclosão de acontecimentos anteriores” apurados em outros inquéritos.
?Nenhum ato acontece sem mentor?, disse Ana Borges ao g1 ? na primeira entrevista desde que assumiu o posto no fim de setembro.
A procuradora foi escolhida como vice pela procuradora-geral da República interina, Elizeta Ramos, que substitui Augusto Aras até uma nova indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Não cuido especificamente da investigação do 8 de janeiro, mas posso falar como Ministério Público: o que é investigado são os fatos. Se surgirem indícios de autoria e materialidade contra o ex-presidente (Jair Bolsonaro), ele não tem imunidade e não tem isenção. Vai ser denunciado como qualquer cidadão que praticar um crime?, afirmou Ana Borges.
“Agora, ele não vai ser perseguido, porque a história do Brasil já mostrou que o Ministério Público não pode escolher alvos. O Brasil já teve essa história e tem que aprender suas lições”, acrescentou.
A atual vice-PGR é crítica dos métodos da Lava Jato desde o auge da operação, quando a Polícia Federal prendeu o então ex-presidente Lula.
As declarações de Ana Borges foram dadas ao g1 dias depois de uma entrevista à revista “Veja” na qual o subprocurador-geral Carlos Frederico Santos, encarregado das investigações sobre os atos golpistas na PGR, classificou como ?fraca? a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Santos é um dos candidatos ao comando efetivo da PGR ? e marido de Ana Borges, hoje número dois do órgão.
O acordo de delação de Cid foi firmado com a Polícia Federal sem participação da PGR, e foi homologado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes no início de setembro.
A crítica de Santos ao conteúdo da delação repercutiu mal entre investigadores da PF, como noticiou o blog da Andréia Sadi. Para esses investigadores, o subprocurador se mostrou ressentido porque o Ministério Público não participou da elaboração do acordo.
Relembre entrevista de Carlos Frederico Santos à GloboNews sobre a sucessão na PGR:
Aceno a PF e Moraes
O novo entendimento expresso por Ana Borges ? de que o 8 de janeiro deve ser analisado em conjunto com outros inquéritos de episódios anteriores ? aproxima a atual gestão da PGR dos trabalhos conduzidos pela Polícia Federal sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
A vice-PGR defende, por exemplo, que se investiguem possíveis conexões entre os atos terroristas na Esplanada dos Ministérios e o inquérito das milícias digitais, principal apuração sobre os ataques do bolsonarismo às instituições nos últimos anos.
Na gestão Augusto Aras, a PGR dividiu essas apurações.
Os casos de 8 de janeiro ficaram com Carlos Frederico Santos, e os demais (por exemplo, o das milícias digitais e a delação de Mauro Cid), com o vice-procurador-geral de turno. Primeiro, com Lindôra Araújo, considerada próxima ao bolsonarismo; depois, com Humberto Jacques de Medeiros.
“Não temos limite temporal para essas investigações. O que no início se pensou que era só o 8 de janeiro ficou agora muito claro que foi a eclosão de acontecimentos anteriores. As investigações podem levar a essa conclusão de que determinados fatos fazem parte da tentativa de derrubada do Estado Democrático de Direito. O que está chegando agora na minha mão, que eu percebo que possa ter vinculação com o 8 de janeiro, é encaminhado para o doutor Carlos Frederico dos Santos, e ele faz a avaliação do conjunto”, afirmou.
?Não há como dissociar alguns fatos que antecederam o 8 de janeiro e que levaram àquela eclosão de violência. Já está muito claro, o 8 de janeiro não é um fato isolado?, sustenta Ana Borges.
Fonte G1 Brasília