Especula-se que ao mesmo tempo em que o prefeito Abílio fala em extinguir a Agência Municipal de Regulação de Cuiabá (Arsec), a prefeita Flávia Moretti, de Várzea Grande, anuncia planos de privatização no setor. Duas atitudes sincronizadas que nos fazem imaginar que essa especulação nos bastidores pode não ser apenas uma especulação. A decisão de Abílio pode parecer, à primeira vista, um gesto de autoridade. Mas será mesmo só isso? Nos corredores do poder, cresce a tese de que essa movimentação pode ser a peça-chave em uma disputa bilionária pelo controle do saneamento. Sem a Arsec, a regulamentação enfraquece, e o caminho para a rescisão do contrato da Águas Cuiabá pode se abrir como um rio represado prestes a romper. Cuiabá e Várzea Grande, unidas nesse vácuo regulatório, podem ser o grande prêmio de grupos interessados em reescrever a história das concessões.
O saneamento sempre foi um terreno fértil para jogadas de xadrez político-empresariais. Quem comanda a água comanda muito mais do que canos e estações de tratamento – controla uma estrutura de poder invisível, que define quem lucra e quem paga a conta. Se há uma movimentação para desestabilizar a concessão atual, isso não acontece por acaso. Interesses poderosos locais e nacionais , podem estar por trás desse jogo, onde a fiscalização da Arsec talvez fosse um incômodo a mais. A saída dela do tabuleiro pode ser um convite aberto para novos protagonistas entrarem em cena.
E assim seguimos, reféns de um enredo onde Cuiabá e Várzea Grande são o pano de fundo para disputas que extrapolam qualquer discurso de moralidade. Enquanto a população paga taxas cada vez mais altas pelo abastecimento, a verdadeira batalha acontece longe dos holofotes, nos gabinetes e nas salas de reuniões onde os números falam mais alto que as palavras. O que parece ser uma questão administrativa pode ser, na verdade, uma grande jogada de bastidores. A água corre, mas o dinheiro corre mais rápido.