Foi no silêncio de um amanhecer qualquer que os últimos vagões do VLT deixaram Várzea Grande, levados em carretas como um cortejo fúnebre rumo à Bahia. Um adeus sem banda, sem discursos, sem honra. Apenas a poeira levantada pelo asfalto quente, levando embora um sonho que foi nosso, pago com o nosso dinheiro, mas negado ao nosso povo. O VLT de Cuiabá virou lenda, promessa esquecida em meio ao cinismo e à falta de compromisso de quem nos governa. Uma obra quase pronta, 80% concluída, rasgada pelo capricho e pela miopia política. O que era para ser transporte moderno, sustentável e digno virou sucata exportada.
E agora? Agora nos empurram o BRT, o velho ônibus com nome de futuro, a solução de segunda mão que só convence quem não precisa pegar transporte público. O governo mudou o modal, vendeu eficiência onde há apenas atraso, e, no meio da troca, nem VLT, nem BRT, apenas buracos e promessas quebradas. Dois bilhões foram enterrados sem cerimônia, um enterro sem luto oficial, mas com a revolta silenciosa de quem paga essa conta sem nunca ter usufruído dela. O contrato com o Consórcio BRT foi cancelado com apenas 18% das obras feitas, mas o dinheiro já escorreu como areia entre os dedos, misturando-se ao pó das estações inacabadas.
O povo de Cuiabá e Várzea Grande não chorou nas ruas, mas chora por dentro, porque sabe que perdeu mais do que um trem moderno: perdeu dignidade, perdeu tempo, perdeu o direito de ser tratado como gente. Salvador recebe os vagões que eram nossos, como se nos fizessem um favor, e nós ficamos com o gosto amargo da traição. Quem nos governa jogou no lixo um projeto que poderia mudar nossa cidade para sempre, e no lugar dele nos deu trânsito, poluição e ônibus superlotados. O progresso foi embora de carona nas carretas, e nós ficamos para trás, esperando o próximo engodo, o próximo contrato bilionário, a próxima decepção.