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Parentes de vítimas do voo Rio-Paris em 2009 dizem estar enojados por absolvição da Air France e da Airbus

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Parentes de vítimas francesas do voo AF477, da Air France, que caiu em uma viagem do Rio de Janeiro a Paris em 2009, criticaram a decisão da Justiça da França que absolveu a companhia aérea e a fabricante de aviões Airbus.

A Justiça da França absolveu as duas empresas por considerar que não foi possível demonstrar a relação de causalidade entre as imprudências cometidas pelas empresas com o acidente (veja mais abaixo).

“Esperávamos um veredicto imparcial, não foi o caso. Estamos enojados”, disse Danièle Lamy, presidente da associação Entraide et Solidarité AF447, que representa as famílias das vítimas.

“Destes 14 anos de espera, nada resta além de desesperança, consternação e raiva”, afirmou.

“Eles nos dizem: ‘Responsáveis, mas não culpados’. É claro que esperávamos a palavra ‘culpados'”, afirmou Alain Jakubowicz, advogado da associação.

“Não faz sentido para mim”, disse, com a voz trêmula Ophélie Toulliou, que perdeu o irmão no acidente, compartilhando seu “sentimento de injustiça” e “incompreensão”.

Parentes de vítimas brasileiras

Renata Mendonça, que perdeu o marido, Marco Antonio Mendonça, na tragédia, disse considerar a decisão decepcionante.

?Eu não vou dizer que estamos surpresos. A gente viu, nas audiências em Paris, em novembro do ano passado, que já dava essa pista para nós. Infelizmente, fomos cobaias, pagamos com a vida dos nossos queridos?, afirmou ela.

Nelson Faria Marinho, de 79 anos, disse à agência RFI que a decisão da Justiça da França é absurda, e que ele ficou muito indignado.

Marinho perdeu seu filho Nelson e fundou a Associação de Familiares das Vítimas do Vôo 447. “Sabemos todos que a Air France tem culpa por falta de manutenção das aeronaves e a Airbus por ter fabricado um avião assassino”. Ele afirmou que vai consultar os advogados para saber se pode haver ainda um recurso. “A França não é um país sério”, afirmou Marinho (nos anos 1960, no Brasil, havia um boato que atribuía ao general Charles de Gaulle, então presidente da França, a frase “o Brasil não é um país sério”, mas não há evidência de que o francês tenha dito isso).

Relembre o acidente

O acidente do voo AF447 Rio-Paris em junho de 2009, deixou 228 pessoas mortas. A bordo do avião, um A330, estavam passageiros de 33 nacionalidades:

  • 61 franceses;
  • 58 brasileiros;
  • 2 espanhóis;
  • 1 argentino

A tripulação de 12 pessoas tinha 11 franceses e um brasileiro.

Quase 14 anos depois da tragédia, o tribunal de Paris absolveu as duas empresas por considerar que, embora tenham cometido falhas, não foi possível demonstrar nenhuma relação de causalidade segura com o acidente.

O tribunal proferiu sua decisão em uma sala repleta de familiares das vítimas, equipes da Air France e Airbus e jornalistas. Quando a absolvição foi anunciada, algumas partes civis se levantaram surpresas, enquanto a presidente continuou sua leitura em meio a um silêncio sepulcral.

Segundo a sentença, os “erros” das empresas aumentaram as chances de ocorrência do acidente, pelo qual a companhia aérea francesa e a fabricante são “civilmente responsáveis” pelos danos.

O tribunal adiou a questão da avaliação dos danos e prejuízos para uma audiência em 4 de setembro.

A sentença gerou grande expectativa, após uma maratona processual marcada por opiniões conflitantes dos magistrados. No final do julgamento, que ocorreu de 10 de outubro a 8 de dezembro, o tribunal pediu a absolvição de ambas as empresas, por considerar “impossível provar” sua culpa.

As empresas cometeram “imprudências”

Nos dias seguintes ao acidente, foram encontrados os primeiros restos do avião e dos corpos. Mas a fuselagem foi localizada somente dois anos depois, a uma profundidade de 3.900 metros.

As caixas-pretas confirmaram que os pilotos, desorientados por uma falha quando as sondas de velocidade Pitot congelaram no meio da noite, não conseguiram impedir a queda do avião, que ocorreu em menos de cinco minutos.

O tribunal considerou que a Airbus cometeu “quatro imprudências, ou negligências”, especialmente por não ter substituído nas aeronaves A330 e A340 os modelos de sondas Pitot denominados “AA”, que pareciam congelar com mais frequência e haviam apresentado falhas nos meses anteriores.

A fabricante francesa também teria ocultado informações das companhias aéreas e deveria ter atualizado seu procedimento de estol (perda de sustentação), de acordo com o tribunal.

A Air France cometeu duas “imprudências”, relativas às modalidades de divulgação de uma nota informativa dirigida aos seus pilotos sobre as falhas das sondas.

Na esfera criminal, no entanto, segundo o tribunal, “uma relação de causalidade provável não é suficiente para tipificar um crime”, já que seria necessário provar que, sem esses erros, “a morte das vítimas não teria ocorrido”.

Fonte G1 Brasília

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