A crise política e institucional em Mato Grosso se aprofunda. No mesmo momento em que a Operação Office Crimes escancarou o envolvimento de policiais militares – incluindo agentes ligados ao governo – no assassinato do advogado Renato Gomes Nery, o governador Mauro Mendes nomeia a toque de caixa o ex-Procurador-Geral de Justiça, Deosdete Cruz, como desembargador do Tribunal de Justiça do estado.
A nomeação de Deosdete já vinha gerando revolta dentro do Ministério Público, pois sua indicação foi marcada por supostas irregularidades e forte rejeição da classe. A lista sêxtupla sequer foi preenchida, com apenas quatro promotores participando para cumprir tabela, já que os demais boicotaram o processo. A ação movida pelo deputado federal Emanuelzinho detalha passo a passo como a vaga já estava reservada para Deosdete, o que levou promotores e procuradores a se manifestarem publicamente contra a escolha, acusando-o de ser um “PGJ chapa-branca” e bajulador do governo.
O caso foi levado ao CNMP, ao CNJ, STJ e até ao STF, onde uma ação pode anular toda a nomeação, expondo um possível favorecimento indevido e comprometendo a lisura do processo. O cenário fica ainda mais tenso quando se observa que a posse de Deosdete ocorre exatamente após a operação que prendeu cinco policiais militares – um deles exonerado do gabinete do governador um dia antes e outro, ligado à inteligência da PM, que conseguiu fugir.
O alinhamento entre esses fatos levanta questionamentos sobre um possível controle do governo sobre as instituições e o uso político nesse processo . Em meio a uma investigação que pode revelar um esquema criminoso dentro do próprio aparato estatal, a blindagem institucional parece estar sendo reforçada. A pergunta que fica é: até onde vai essa interferência e o que mais pode estar sendo acobertado nos bastidores do poder?
