Uma reportagem publicada pela Folha de São Paulo nesta terça-feira (07) identificou Mato Grosso como centro da “CPI do Sertanejo”. Conforme levantamento, o estado concentra o maior número de investigações do Ministério Público Estadual (MPE) relacionadas à polêmica envolvendo os cantores. Somente neste ano, 54 prefeituras gastaram, juntas, pelo menos R$ 16,6 milhões.
O valor é mais que o triplo do que o estado captou via Lei Rouanet em todo o ano de 2021, não só para financiar projetos de música, mas de todas as áreas da cultura.
A reportagem foi feita com base nos diários oficiais das prefeituras, nos quais estão publicados os cachês dos artistas e no site do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que compila o número de habitantes e dados econômicos de cada município.
“Até agora, as administrações municipais contrataram pelo menos 192 apresentações de duplas e cantores do sertanejo em 54 cidades, mais de um terço dos municípios do Mato Grosso”, destaca o jornal.
Além disso, a Folha aponta que Mato Grosso possui 24 investigações ativas do Ministério Público que apuram possíveis irregularidades na contratação de cantores como Gusttavo Lima. Entre os municípios investigados estão Sorriso, Brasnorte, Água Boa, São José do Xingú e Canarana, dentre outros.
O procurador-geral de Justiça do Mato Grosso, José Antônio Borges Pereira, escreveu em sua petição que o procedimento visa a “defesa do patrimônio público e da probidade administrativa”.
“Precisamos ver se as prefeituras não estão prejudicando outras políticas públicas que são prioridade, como pessoas passando fome, falta de creches, creches sem merenda, postos de saúde não funcionando. Isso tudo é prioridade em relação a um show, que você pode fazer com cantores locais que cobram menos”, afirmou Pereira, em entrevista à Folha.
Segundo Antônio Borges, os valores dos cachês são incompatíveis com as capacidades financeiras dos municípios investigados.
Dentre as 54 prefeituras apuradas pela reportagem, a de Cocalinho (864,3 km da Capital) foi a que mais investiu este ano, com R$ 1,2 milhão destinados a 15 shows. É como se cada um dos 5.716 moradores tivesse desembolsado R$ 209 para ver figuras como Maiara & Maraísa, Humberto & Ronaldo e George Henrique & Rodrigo. Lá, quase 40% da população vive com até meio salário mínimo por mês.
Entenda
Mato Grosso foi onde começou a polêmica dos altos cachês dos sertanejos pagos por prefeituras sem licitação. Há algumas semanas, Zé Neto, da dupla com Cristiano, criticou a “tatuagem anal” de Anitta e afirmou nos palcos de Sorriso que não usava a Lei Rouanet, mas omitiu que aquele e tantos outros shows da dupla são bancados com verba pública – isto é, a mesma fonte de recursos da Rouanet.
“Estamos aqui em Sorriso, no Mato Grosso, um dos estados que sustentaram o Brasil durante a pandemia. Nós somos artistas e não dependemos de Lei Rouanet, nosso cachê quem paga é o povo. A gente não precisa fazer tatuagem no ‘toba’ para mostrar se a gente está bem ou não”, disparou.
Essas declarações deram origem a uma série de questionamentos a respeito das verbas destinadas a apresentações de cantores sertanejos e sem licitação. Alguns artistas passaram a perder cachês milionários em cidades pequenas e viraram alvo do Ministério Público.
Com informações da Folha de São Paulo
Fonte: Isso É Notícia