O PSDB e o Podemos se preparam para anunciar, ainda este mês, uma fusão entre os partidos. Os ajustes finais foram confirmados ao g1 por dirigentes das duas legendas ? o formato do anúncio ainda não está definido.
Segundo membros dos partidos, a oficialização do acordo deve dar início a uma segunda rodada de negociações. Nela, serão definidos o estatuto, o programa partidário e até o nome da “fusão”.
Quando for oficializado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o processo dará origem a um novo partido. Por enquanto, a fusão deve ser chamada apenas de “PSDB+Podemos”.
Juntos, os partidos podem chegar a ter a sétima maior bancada da Câmara, com 28 deputados.
- “Podem”, neste caso, porque a Justiça Eleitoral permite que deputados migrem para outras siglas sem punição em cenários como esse, de fusão do partido de origem.
No Senado, o novo partido pode ser a quarta maior bancada da Casa, com 7 senadores. Com esse número, ficaria empatado com o União Brasil.
Dos dois lados, a avaliação é de que os detalhes da junção já estão “bem encaminhados”, com poucas “arestas”. Alguns pormenores ainda devem ser discutidos por uma comissão com dirigentes atuais do PSDB e do Podemos.
As pendências incluem, por exemplo, a definição de novos comandos nacionais e estaduais para unificar o partido.
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Um ‘horizonte’ para o PSDB
O anúncio cumprirá a promessa do presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, de entregar aos tucanos, até o fim deste mês, um horizonte para o futuro do partido.
O PSDB entrou no ano pré-eleitoral pressionado por uma crise interna e com sinalizações de que os três governadores eleitos pela sigla poderiam deixar o ninho tucano.
- Raquel Lyra (Pernambuco) já migrou para o PSD.
- Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) ainda não fez anúncio oficial mas, segundo o blog da Ana Flor no g1, já decidiu também se filiar ao PSD.
- Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul) ainda negocia com outras siglas. Oficialmente, assim como Leite, diz esperar uma definição sobre o futuro do PSDB.
A avaliação de tucanos é que fusão com o Podemos poderá estancar o declínio do PSDB ? e garantir que o fator histórico da sigla seja mantido ao longo dos próximos anos.
Também há uma esperança (remota, na avaliação de parte dos dirigentes tucanos) de que o anúncio impeça Leite de deixar a sigla e ir para o PSD.
A parte descrente usa como argumento uma reunião recente sobre a fusão com o Podemos. Segundo relatos, Eduardo Leite desconversou ao ser questionado diretamente sobre a possibilidade de continuar no ninho tucano após a fusão.
Em fevereiro, o presidente do PSDB, Marconi Perillo, comentou a situação do partido em entrevista à GloboNews. Veja:
Da presidência do Brasil ao risco de sumir
O PSDB, que já chegou a presidir o país e ocupar o topo do ranking de parlamentares eleitos, tem enfrentado debandada em todos os estados.
O declínio, segundo tucanos, é resultado direto das eleições de 2022, quando o PSDB registrou o pior desempenho eleitoral.
À época, mergulhado em divergências, a sigla se federou ao Cidadania, em uma tentativa de melhorar os seus resultados.
O resultado foi:
- eleger a menor bancada da história dos tucanos na Câmara;
- ficar sem bancada no Senado;
- não indicar candidato ao Planalto pela primeira vez desde 1989;
- perder o governo do estado de São Paulo, que estava nas mãos do partido há quase três décadas.
O temor do ninho tucano é que o processo de desidratação leve a um asfixiamento financeiro e a uma aceleração do desaparecimento do partido.
O motivo principal é o endurecimento da cláusula de barreira ? regra que determina, com base em número de votos válidos e deputados eleitos, quais partidos terão direito a recursos públicos mensais para o funcionamento das siglas (fundo partidário) e ao tempo de propaganda em TV e rádio.
Em 2026, a distribuição destes recursos se dará com base nos resultados de 2022. Na prática, isso quer dizer que a fusão, ao ser oficializada, terá direito a um fundo partidário maior e a maiores fatias do fundo público de financiamento de campanha ? o Fundo Eleitoral ? e do tempo de rádio e TV.
A expectativa, dos dois lados, é que isso possibilite maior investimento em campanhas e favoreça a eleição de correligionários no próximo ano, o que driblaria a cláusula de barreira.
A partir de 2027, para que os partidos tenham direito ao tempo de TV e rádio e ao fundo partidário, será preciso:
- obter, nas eleições de 2026, ao menos 2,5% dos votos válidos para a Câmara ? distribuídos entre 9 estados com, no mínimo, 1,5% dos votos válidos em cada estado; ou
- eleger, em 2026, no mínimo, 13 deputados distribuídos em pelo menos 9 estados.
Fonte G1 Brasília