Ah, os cães! De ferozes caçadores a guardiões leais, agora se transformam em nossos companheiros de sofá, adaptando-se à nossa vida moderna e sedentária. A ciência nos diz que a ocitocina, aquele hormônio que nos faz suspirar de amor, está moldando nossos amigos de quatro patas, tornando-os mais dóceis e afetuosos. Mas será que, ao moldarmos os cães à nossa imagem e semelhança, não estamos também nos tornando mais caninos, buscando nos olhos deles a humanidade que às vezes nos falta?
Acontece que não são apenas os cães que evoluem — nós também estamos mudando. Criamos esses animais para nos servirem, para caçar, para guardar, para latir no portão e proteger o patrimônio. Agora, os queremos como apoio emocional, como terapeutas de pelos macios, como substitutos para ausências que nem a tecnologia consegue preencher. No fundo, domesticamos os cães, mas também nos domesticamos. Ficamos mais carentes, mais dependentes, mais carinhosos… ou será que só estamos mais sozinhos?
E assim seguimos, humanos e cães, em um pacto silencioso que atravessa séculos. Talvez, um dia, eles falem — ou talvez já falem, mas nós é que esquecemos como escutar. Porque nessa evolução compartilhada, a única certeza é que precisamos uns dos outros. No final das contas, o mundo anda tão estranho que, se bobearmos, são os cachorros que acabarão nos ensinando a sermos gente outra vez.