O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) encerrou nesta terça-feira a série de sabatina com os candidatos à prefeitura de São Paulo realizada pelos jornais O GLOBO, Valor e Extra e pela rádio CBN. Ao longo da última semana foram entrevistados Ricardo Nunes (MDB), José Luiz Datena (PSDB), Tabata Amaral (PSB) e Pablo Marçal (PRTB).
As entrevistas com os candidatos de São Paulo tiveram transmissão ao vivo pela rádio e nos sites e redes sociais dos três veículos, com duração aproximada de uma hora. A cobertura, no site e na edição impressa do GLOBO, contará com reportagens e análises sobre cada sabatina.
A ordem das sabatinas foi definida por sorteio, mas as datas precisaram sofrer ajustes por conta da agenda de debates. Foram chamados os cinco candidatos mais bem colocados na última pesquisa eleitoral de São Paulo divulgada pelo instituto Datafolha.
As sabatinas representam uma oportunidade para que os candidatos detalhem propostas para a cidade, e também para que sejam questionados sobre diferentes aspectos de suas atuações políticas. As entrevistadoras serão as colunistas Vera Magalhães e Malu Gaspar, do GLOBO e da CBN, os âncoras da rádio Débora Freitas e Fernando Andrade, e a colunista Maria Cristina Fernandes, do Valor e da CBN.
A equipe do Fato ou Fake checou as principais declarações de Guilherme Boulos. Leia:
?São Paulo hoje tem o maior orçamento em termos reais da história da cidade, R$ 112 bilhões, previsto R$ 119/120 bilhões na LDO do ano que vem. É o maior em termos reais.?
A declaração é #FATO. Veja por quê: O orçamento do município em 2024, aprovado pela Câmara Municipal, foi de R$ 111,8 bilhões, cerca de 16% a mais do que o aprovado para o Orçamento de 2023. É o maior da história da cidade de São Paulo. O legislativo paulistano estima que o orçamento de 2025 chegue a R$ 119 bilhões, 6,5% maior do que este ano, como afirmou o candidato.
?A situação fiscal, ao contrário do que o Ricardo Nunes tem dito, não se deve a ele. A dívida de São Paulo com a União foi renegociada no governo [de Fernando] Haddad. Era R$ 79 bilhões e foi para R$ 32 bilhões, por uma negociação do Haddad, que renegociou os juros e a dívida. A única coisa que Ricardo Nunes fez foi vender o Campo de Marte para a União, mas o grosso da dívida foi resolvida pelo [Fernando] Haddad.?
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Em 2016, seu último ano de mandato na prefeitura, o então prefeito Fernando Haddad chegou a uma negociação da dívida de São Paulo com a União. Com a renegociação, o saldo devedor do município caiu 63%, de R$ 74 bilhões para R$ 27,5 bilhões [ou de R$ 138,8 bilhões, em 2015, para R$ 68,7 bilhões em 2016, em valores corrigidos pela inflação]. Isso possibilitou, à época, uma redução de cerca de R$ 370 milhões para R$ 200 milhões na parcela mensal que a cidade pagava ao governo federal.
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) também renegociou dívidas do município com a União. Em 2022, a prefeitura cedeu ao governo federal o Campo de Marte, aeroporto na zona norte da cidade. Em troca, conseguiu abater R$ 24 bilhões de sua dívida com a União.
Atualmente, a dívida pública da cidade de São Paulo com a União é da ordem de cerca de R$ 22,1 bilhões.
?Ricardo Nunes se colocou contra a vacinação. Antes disso tinha dito que o oito de janeiro não foi tentativa de golpe, foi manifestação. Antes disso, em vídeo na internet, ele disse que Bolsonaro tinha feito tudo certo.?
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Em entrevista ao podcast de Paulo Figueiredo e do canal Te Atualizei, Ricardo Nunes não disse ser contra a vacina da Covid-19. Na verdade, Nunes afirmou ter errado ao exigir o comprovante de vacinação na cidade de São Paulo durante a pandemia e se declarou contra a imunização obrigatória para prevenir a Covid-19.
Na mesma entrevista, o candidato à reeleição comparou a pena dada aos invasores com uma manifestação de 2015, na qual integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ocuparam uma sede do Ministério da Fazenda, em São Paulo ? retórica utilizada com frequência por bolsonaristas.
Em cortes na internet da entrevista de Ricardo Nunes no programa Roda Viva, o prefeito de São Paulo afirmou que apesar de ter criticado o ex-presidente no passado, sobretudo por conta das ameaças de Bolsonaro à democracia, disse que ?não tem crítica a Bolsonaro?. O prefeito disse ter ?sempre defendido? o que Bolsonaro prega. ?Sempre teve uma relação daquilo que Bolsonaro sempre defendeu e daquilo que eu defendo?, afirmou.
?A fila de exame chegou a 452 mil pessoas na cidade de São Paulo.?
A declaração é #FATO. Veja por quê: Levantamento realizado pelo g1, em janeiro deste ano, aponta que a cidade de São Paulo tinha, ao menos, 445 mil pessoas na fila de espera para fazer um exame na rede pública municipal. O número representa um aumento de 52,4% em relação a 2022, quando 292.200 pessoas aguardavam por um exame.
A maioria das pessoas na fila espera por exames de endoscopia (avaliação do sistema digestivo por câmera). Atualmente, são 97 mil pacientes à espera desse tipo de procedimento, aumento de 72% em relação ao ano anterior. Já a espera por exames cardiológicos subiu 194%.
Em março do ano passado, reportagem do SP2, da TV GLOBO, mostrou que 459 mil pessoas estavam à espera para a realização de um algum tipo de exame médico na rede municipal de saúde da cidade de São Paulo.
Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde não contestou os números apresentados pelo candidato.
“Quando virei deputado federal, entrei em seis comissões, aprovei três PLs [Projeto de Lei] no primeiro ano de mandato.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Dos 504 projetos de autoria de Guilherme Boulos, dois foram aprovados e um já foi analisado em plenário no ano de 2023. O primeiro proíbe instituições financeiras de concederem empréstimo consignado sem autorização expressa do beneficiário. Quando Boulos apresentou o projeto, contudo, já existia outro semelhante em tramitação (o PL 2131, de 2007). Quando uma proposta apresentada é parecida com outra que já está tramitando, a Mesa da Câmara determina que a mais recente seja apensada (tramitada conjuntamente com proposições que tratam de assuntos iguais ou semelhantes) à mais antiga. A proposta que aprova multa a bancos que fizerem consignados sem autorização do beneficiário foi aprovada na Câmara.
O segundo projeto aprovado foi o que institui o Programa Cozinha Solidária, para a distribuição de alimentação gratuita à população em situação de vulnerabilidade e risco social, incluindo aquela em situação de rua. Assim como o projeto anteriormente mencionado, o texto proposto por Boulos foi tramitado na Câmara juntamente com um projeto anterior que possui pontos em comum com o apresentado por ele (o PL 3365/2021). A proposta foi aprovada na Casa e se tornou a lei que institui o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Cozinha Solidária, de 20 de julho de 2023.
Outro PL de Boulos, analisado em plenário, define agosto como o mês de combate às desigualdades. O texto possui três artigos e estabelece que no mês de agosto o Congresso analise políticas públicas de caráter social do governo federal, com a finalidade de “fiscalizar a implementação, consolidação e expansão” dessas ações. A Casa aprovou apenas o texto-base, mas os destaques ainda não foram votados, e o projeto, portanto, ainda não foi aprovado.
Além disso, no ano de 2023, Boulos foi titular em três comissões (Grupo de Trabalho sobre Política de Combate à Violência nas Escolas Brasileiras, Comissão de Desenvolvimento Urbano, Comissão Mista de Orçamento) e suplente em outras quatro (Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação, Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, Comissão de Finanças e Tributação, Comissão de Fiscalização Financeira e Controle).
“Vamos lembrar que o Ricardo Nunes foi o único prefeito desde o Celso Pitta que não começou ou entregou nenhum hospital municipal. (…) Entre M’Boi e Campo Limpo tem o Capão Redondo. O Capão Redondo é um bairro extremamente populoso. Não tem hospital. (…) Eu dei esse exemplo do Capão Redondo, poderia dar do Itaim Paulista, que também não tem hospital e tem uma fila muito grande.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: A Secretaria Municipal da Saúde afirmou que desde 2021, a gestão de Bruno Covas e Ricardo Nunes entregou cinco hospitais para a capital: Hospital Integrado Santo Amaro, HM Lydia Storopoli, Hospital Cantareira, HM Brigadeiro e Hospital Sorocabana. Todas as unidades foram entregues entre 2020 e abril de 2021, enquanto Nunes ainda era vice-prefeito.
Sobre a falta de hospitais nos bairros citados, no Capão Redondo, na Zona Sul da capital, não há nenhum. De acordo com a prefeitura, a região conta a AMA 24 horas Capão Redondo e o Pronto Atendimento (PA) Jardim Macedônia para atendimento de urgência, tendo os Hospitais Municipais M?Boi Mirim, Campo Limpo e Guarapiranga como referências.
No entanto, no Itaim Paulista, na Zona Leste, está localizado o Hospital Santa Marcelina do Itaim Paulista, uma Organização Social de Saúde (OSS), que atende pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Participaram desta checagem: Daniel Biasetto, Filipe Vidon, Giovanna Durães, Klauson Dutra, Lucas Guimarães, Marsílea Gombata, Mel Trindade, Rayane Rocha e Thamila Soares.
Fato ou Fake explica:
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Fonte G1 Brasília