O Ministério Público Estadual de Mato Grosso (MPE-MT) parece funcionar com dois pesos e duas medidas, dependendo de quem está no centro das investigações. De um lado, o promotor Mauro Zaque age com rigor e seriedade ao denunciar um ex-deputado estadual pelo uso indevido de um carro oficial e vale-combustível da Assembleia Legislativa para fins particulares. Do outro, o ex-procurador-geral de Justiça Deosdete Cruz Júnior minimiza o uso de um avião UTI do governo estadual pelo governador Mauro Mendes para comparecer a uma festa privada da JBS.
Na ação contra o ex-deputado Gilmar Fabris, o promotor Mauro Zaque pede a indisponibilidade de bens para garantir o ressarcimento do prejuízo aos cofres públicos. A investigação demonstrou que um advogado sem vínculo com a Assembleia utilizou um veículo locado e o cartão corporativo da Casa Legislativa para uso pessoal, com anuência do parlamentar. Trata-se de um claro caso de improbidade administrativa, tratado com o devido rigor.
Já no caso do governador Mauro Mendes, o ex-procurador-geral Deosdete Cruz Júnior declarou que não viu “elementos suficientes” para sequer abrir uma investigação sobre o uso do avião UTI, um recurso destinado a salvar vidas, para fins pessoais. Na sua justificativa ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Deosdete chegou ao cúmulo de afirmar que é “natural” que autoridades participem de eventos privados. Se dependesse dele, o governador poderia continuar usando equipamentos públicos sem qualquer consequência.
A dualidade de condutas no MPE-MT não é um mero acaso. Deosdete, que até o mês passado comandava o órgão, blindou sistematicamente Mauro Mendes e seu governo, enquanto adversários políticos e jornalistas críticos à gestão enfrentam processos e perseguições. O Ministério Público, que deveria ser imparcial e independente, tornou-se um instrumento de proteção do poder.
Felizmente, ainda há promotores como Mauro Zaque, que honram a instituição e cumprem seu dever constitucional de fiscalizar e punir desvios. O que se vê, no entanto, é um MPE dividido: um que serve ao povo e outro que serve ao governador. E enquanto essa parcialidade continuar, Mato Grosso seguirá refém de um jogo político que transforma a justiça em uma ferramenta de conveniência.