O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem relatando a ministros e assessores próximos um incômodo com a chefe interina da Procuradoria-Geral da República (PGR), Elizeta Ramos.
A procuradora só está no cargo porque Lula ainda não escolheu quem indicará para o comando definitivo da PGR. E agora, o presidente passou a olhar para esse cenário com outro olhar: o das consequências dessa demora.
Auxiliares de Lula ouviram do presidente que essa escolha pode ser “antecipada” para a próxima semana. Um dos motivos é a desconfiança de que Elizeta Ramos estaria abrindo portas para que procuradores que defendem a operação Lava Jato ascendam no Ministério Público.
Lula está “preocupado” com supostas ações da PGR interina para “devolver cargos a lavajatistas”. A frase faz referência a procuradores que participaram diretamente da operação e aos que apoiam esse grupo.
Qualquer ligação com a Lava Jato é considerado ponto nevrálgico e inadmissível para o presidente. Esse, inclusive, é um dos critérios que levou Lula a mudar a própria visão sobre o cargo na PGR, abandonar a lista tríplice e decidir um ?critério de confiança pessoal? para escolher o procurador-geral definitivo.
As movimentações de Elizeta
No mês passado, a procuradora-geral interina substituiu um dos membros da 5ª Câmara do MPF, responsável pelo combate à corrupção, antes do término do mandato.
Elizeta trocou Ronaldo Albo por Alexandre Camanho ? subprocurador-geral que, segundo membros do MPF, não é propriamente um lavajatista, mas se relaciona bem com esse grupo.
Mais recentemente, a PGR interina anunciou aos colegas que decidiu trocar os chefes das procuradorias nos estados, uma vez que sua gestão estava se alongando e as unidades estavam pedindo mudanças.
Inicialmente, Elizeta havia dito que deixaria a escolha dos novos procuradores-chefes para o próximo PGR, mas mudou de ideia.
Membros da instituição entenderam que a nova postura de Elizeta atende a pedidos da ala lavajatista, que se organiza para tentar retomar espaço na PGR após a gestão de Augusto Aras (crítico ferrenho da operação).
A PGR interina comunicou aos colegas que vai designar como procuradores-chefes os nomes mais votados por seus pares em cada unidade, com base em uma norma de 2003 que vinha sendo ignorada por Aras.
A Procuradoria da República no Distrito Federal já realizou a eleição interna e indicou para a chefia da unidade a procuradora Anna Carolina Resende, que trabalhou no grupo da Lava Jato montado pelo ex-PGR Rodrigo Janot.
Anna Carolina apareceu em mensagens de Telegram, divulgadas em 2019, fazendo críticas ao então ex-presidente Lula, alvo da operação.
Outros exemplos apontados como lavajatistas são Sergio Pinel ? que já é procurador-chefe no Rio de Janeiro e pode ser mantido na função ? e Marcelo Godoy, escolhido para ser o novo procurador regional eleitoral no Paraná.
Quem assume a PGR?
Lula teve conversas com subprocuradores-gerais candidatos ao cargo e interlocutores deles nas últimas semanas, mas a decisão ainda não foi anunciada.
Na lista de cotados, estão:
- Paulo Gonet, apoiado por ministros do STF;
- Antônio Carlos Bigonha;
- Aurélio Rios;
- Carlos Frederico Santos, e
- Luiz Augusto Santos Lima.
Fonte G1 Brasília