O presidente francês Emmanuel Macron foi a Buenos Aires no domingo (17), na Argentina, para tentar convencer o presidente Javier Milei a acatar tópicos da agenda do G20, antes de viajar para a cúpula o Rio de Janeiro.
Segundo interlocutores do Palácio do Eliseu, Macron quer garantir que seja possível construir um consenso internacional para a declaração final no Rio, especialmente sobre pautas relacionadas a meio ambiente e comércio.
O governo da França é entusiasta dos temas tratados como prioridades durante a presidência do Brasil no G20, entre eles o combate à fome e à pobreza, a reforma da governança global, o enfrentamento às mudanças climáticas e um pedido de paz para os conflitos na Europa e no Oriente médio.
Para garantir que a cúpula seja bem-sucedida, o presidente francês pretende fazer o que estiver a seu alcance, inclusive conversar com líderes que têm posicionamentos políticos diferentes sobre os principais tópicos da cúpula, como é o caso de Javier Milei.
O objetivo de Macron será tentar convencer esses da necessidade de apoiar a agenda proposta pela presidência brasileira, especialmente relacionada ao meio ambiente e ao desenvolvimento econômico.
Milei tem sido resistente e contrário a pautas relacionadas a mudanças climáticas e a taxação dos super-ricos. O presidente argentino é um negacionista climático e retirou a delegação do país da COP29, encontro desta semana para discutir clima no Azerbaijão. Além disso, os argentinos se recusaram a assinar, em outubro, um texto negociado entre ministros sobre igualdade de gênero. Especula-se ainda uma possível saída do país do Acordo Climático de Paris.
Acordo Mercosul – UE
A posição do presidente Emmanuel Macron sobre o acordo entre o Mercosul e a União Europeia segue resistente aos avanços propostos até o momento. O acordo deve ser pauta das reuniões bilaterais com o presidente Lula e com Javier Milei durante o G20, mas não deve ter avanços.
O acordo entre os blocos, negociado há mais de 20 anos, está travado por falta de consenso com países como a França. Interlocutores do governo francês ressaltam que Macron mantém seu posicionamento em não concordar com o texto atual.
A proposta de acordo entre os dois blocos passou por uma série de revisões e exigências ao longo dos últimos anos. Mas as tratativas do acordo comercial sofrem pressão por parte de agricultores insatisfeitos ? principalmente na França ?, sob o argumento de haveria uma “concorrência desleal” com a entrada mercadorias de países como o Brasil.
Em janeiro deste ano, o presidente da França, Emmanuel Macron, pediu à Comissão Europeia que desista do tratado com o Mercosul. Em dezembro do ano passado, ele já tinha se posicionado contra o acordo, ao chamá-lo de “antiquado” e “mal remendado?.
A França diz que quer aumentar a parceria com o Brasil, Argentina e os outros países do Mercosul e com o continente em geral. Mas há uma divergência da França como elação ao setor agrícola. Para as negociações do acordo, a França quer ter uma espécie de reciprocidade entre os diferentes países em termos de produções, normas e padrões e, portanto, o presidente Macron manterá a posição que já expressou ao presidente Lula e ao presidente Milei.
O governo francês diz estar pronto para negociar e ter um acordo com o país do Mercosul, mas afirma que o país será muito cuidadoso com a reciprocidade e padrões de produção.
Macron pela América do Sul
Além de visitar a Argentina e participar da cúpula do G20 no Rio de Janeiro, o presidente da França também fará uma passagem pelo Chile nos próximos dias.
Essa será a segunda visita de Emmanuel Macron à América do Sul, após a visita em março ao Brasil.
Interlocutores do governo francês afirmam que esse ?é o ano da América Latina para o presidente francês?, especialmente por ser uma visita 60 anos após a visita histórica do presidente General Charles de Gaulle, que passou por todo o continente em 1964.
O governo francês quer redefinir a relação com a América Latina e compartilhar interesses estratégicos. A parte econômica, segundo interlocutores, está no centro da estratégia que a França tem com os países latino-americanos.
O país tem 250 empresas sediadas na Argentina e 300 empresas francesas fazendo negócios no Chile, além de ter grandes investimentos, por exemplo, em lítio em ambos os países. Um dos principais objetivos de Macron é também estimular o investimento desses país na França.
No Chile, Macron prestará homenagem ao grande autor e intelectual Pablo Neruda e irá até a casa onde ele viveu em Santiago. Segundo o governo francês, esse também será um momento importante para lembrar o apoio da França após o golpe de estado em 1973 e como a França e muitos franceses mostraram sinais de solidariedade ao povo chileno.
Macron terá ainda uma reunião com o presidente chileno Gabriel Boric e encontros com investidores chilenos.
Fonte G1 Brasília