Em audiência na Comissão de Direitos Humanos do Senado nesta quarta-feira (15), jornalistas e associações relataram um aumento na escalada de ameaças e agressões a profissionais de imprensa em todo o país. Esse cenário, segundo os depoimentos, põe em risco a própria liberdade de imprensa, um dos pilares da democracia.
Jornalistas e associações também comentaram o caso do jornalista inglês Dom Phillips, do jornal The Guardian, e do indigenista Bruno Pereira, desaparecidos desde 5 de junho, após uma incursão no Vale do Javari, região da Amazônia. Para os profissionais da imprensa, uma eventual agressão não seria um caso isolado, dado o clima de constantes ameaças no país.
?Antes de mais nada, eu queria manifestar minha solidariedade às famílias do Bruno Pereira e do Dom Phillips. Eu também gostaria de manifestar a minha revolta pessoal e a minha indignação. É obrigação, sim, do Estado colocar todos os meios necessários para buscá-los, mas a busca é também pelos nossos direitos, e é isso que está em jogo nessas buscas?, afirmou o jornalista Jamil Chade.
A presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Natália Mazotte, cobrou ?respostas institucionais? para o desaparecimento na Amazônia. Disse ainda que o caso é uma “amostra extrema” do ambiente de insegurança para jornalistas e defensores dos direitos humanos que se criou no país.
?Esse caso joga a luz ao ambiente de insegurança que se instaurou no país para comunicadores e defensores de direitos humanos. O caso de Dom Phillips é uma amostra extrema desse ambiente de insegurança que o Brasil passou a ter para jornalistas. Desaparecimentos e assassinatos são casos extremos, mas o cerceamento à liberdade de imprensa vai muito além disso?, disse Mazotte.
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Liberdade de imprensa e democracia
Na audiência, a presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga, afirmou que há uma correlação entre os ataques à liberdade de imprensa e os ataques à democracia. Para ela, quem não quer a democracia plena busca intimidar a imprensa.
?É preciso que todos nós saibamos que os jornalistas são agredidos pelo bom trabalho que fazem, e não por erros cometidos. É assim que nós somos vítimas de toda a ordem de agressões: pelo que fazemos para garantir o direito do cidadão e da cidadã à informação jornalística, que é uma informação apurada, verificada e, portanto, verdadeira. O jornalismo tem um papel fundamental e é por isso que nós o chamamos de pilar da democracia. E são exatamente grupos e pessoas que não querem a democracia participativa, a democracia verdadeira, que atacam jornalistas e atacam o jornalismo?, afirmou.
Associações relatam agressões
A presidente da Abraji ressaltou que entre janeiro e abril de 2022 foram registrados mais de 150 casos de agressões física e verbais ou outras formas de cerceamento ao trabalho jornalístico ? número que representa um aumento de 27% em relação ao mesmo período no ano passado.
Mazotte acrescentou que, em 2021, foram mais de 450 ataques contra comunicadores e meios de comunicação, sendo que 69% deles foram provocados por autoridades públicas.
Fonte G1 Brasília